segunda-feira, 8 de junho de 2009

Martyrs

Martyrs, Pascal Laugier, 99 min., 2008




O cinema francês vem fazendo muito bonito no terror atualmente. Depois do conceituado “A Invasora”, é a vez de Martyrs dar o ar da graça. O filme acaba virando uma experiência que vai além do que apenas sentar no sofá e assistir. E no caso deste é uma experiência agonizante e angustiante. Um filme que exige bastante psicologicamente do espectador e também requer estômago.

Uma das coisas que torna ‘Martyrs’ muito especial é ver a evolução e o desenvolvimento da trama, ficar esperando o que irá acontecer logo em seguida. Por isso a sinopse será estritamente breve. Lucie, com 10 anos, é achada à beira da estrada apresentando fortes sinais de espancamento, mas surpreendentemente sem sinais de violência sexual. Não se sabe como ela conseguiu escapar do cárcere. É levada então a um orfanato onde conhece Anna, que toma conta dela e se tornam amigas inseparáveis. Quinze anos depois, Anna ainda acompanha Lucie, agora numa busca por repostas e vingança. Só que seus atos trarão conseqüências irreversíveis, sem contar o assombro de um velho trauma...


Porém é impossível não falar da chacina no começo do filme. Sangrenta, fria e violenta. Daquelas de dar um nó no estômago, de deixar o telespectador totalmente avoado e pasmo. É nesse momento que o filme fisga quem assiste, até porque é ele o estopim de todo o resto da história. No café da manhã de um final de semana, uma família inteira é executada a tiros de escopeta, sem nenhuma chance de reação ou defesa. O invasor entra e mata todos sem falar nada, apenas agindo. A cena é filmada sem câmeras lentas, sem trilha sonora, somente os gritos, a correria e os tiros. Bastante verossímil e assustadora.

A parte técnica como um todo é impecável. A parte da chacina é disparada a melhor de todas, mas várias seqüências tiram o fôlego, como a cena em que Lucie se tranca no banheiro. A atuação das duas protagonistas é digna de destaque. No que diz respeito ao terror, vários sustos e tonéis de sangue garantem essa parte, mesmo que o forte seja a história. Idem para o suspense, a trama prende, não perde ritmo e sentindo em nenhum momento, fazendo com que olhos fiquem bem abertos até à hora dos créditos. Direção muito boa de Pascal (que também escreveu o roteiro), não é a toa que foi de mala e cuia para Hollywood dirigir um remake de ‘Hellraiser’ e muito provavelmente obtenha êxito em sua nova empreitada.

Mas é entre o segundo e derradeiro ato que é o clímax se estabelece, onde o filme realmente surpreende. A trama se inverte toda. As questões, que vem sendo respondidas em pouco a pouco, propiciam uma reviravolta radical na história. Se no começo do filme cabia somente especular sobre certos acontecimentos, agora eles são devidamente e totalmente esclarecidos. Essa reviravolta faz com que o espectador entre no filme, participe de todo o sofrimento e caminhe junto com a personagem no espinhoso castigo que lhe infligem. As torturas físicas e psicológicas incomodam de verdade, é desesperançoso e duro de assistir. Fazer com que o espectador também passe pelo martírio é uma jogada inteligente do diretor. A execução da seqüência também ajuda pra isso, vários fade-out dando aquela ansiedade, os closes, o ambiente escuro e sufocante. Enfim, é como se tivessem torturando, agredindo e passando por cima de você.


O final instigante fecha ‘Martyrs’ de forma interessantíssima. A sensação é estranha, o martírio terminou e você ainda sente o baque, fica paralisado enquanto os letreiros finais descem. Falar sobre ele sem revelar certos pontos é meio complicado, mas não falar sobre ele é mais difícil ainda. Um terror de primeira, muito acima dos exemplares lançados recentemente no mercado. Pra quem é fã do gênero não assisti-lo deveria ser passível de punição. Mesmo sendo um terror fala muito sobre sacrifício, fé e ,principalmente, redenção. É uma experiência daquelas que nos fazem agradecer o cinema por existir.

*Postado originalmente no Cinefilia.

6 comentários:

Wally disse...

A-D-O-R-E-I o banner! =D SHOW!

Já o filme, desconhecia, mas com certeza fiquei MUITO interessado. Adoro o cinema francês.

Ciao!

Vinícius P. disse...

Tenho que tomar cuidado com filmes que oferecem uma experiência agonizante para o espectador, afinal o resultado pode nem ser muito satisfatório, mas nesse caso pareceu ser bem interessante!

Filipe Machado disse...

Este filme foi amplamente elogiado pela revista britânica EMPIRE. Tenho elevadas expectativa para visioná-lo! Deve ser fantástico!

Participa na sondagem "Melhor James Bond com Peter Sellers, George Lazenby, Timothy Dalton e Daniel Craig” até ao dia 15 de Julho 2009, em http://additionalcamera.blogspot.com.

Kamila disse...

Não conhecia este filme francês, mas fiquei curiosíssima em conferi-lo depois de ler esse seu ótimo texto.

Anônimo disse...

ja vi este filme, mas devo dizer ou aconselhar a pessoas mais fracas de cabeça, a nao verem mesmo este filme.
é um dos melhores filmes de terror de sempre.

Eduardo Salvalaio disse...

Acabei de assistir por conta da recomendação de um amigo meu. E claro, só quis ler na internet sobre esta película depois que acabasse de ver o filme. Faço minhas as suas palavras. Um filme sufocante, claustrofóbico, angustiante, martirizante...fiquei sem piscar por 1 hora e meia.

E eu que pensava que o gênero terror estava acabado, confesso que calei a boca. Já tinha ganhado boas perspectivas de renascimento do gênero com o inglês 'Eden Lake'. Com 'Martyrs' agora, estou confiante e esperando novas produções. E viva o cinema francês.

Humm, agora fica uma questão. Será que o diretor Pascal vai mandar bem na refilmagem de 'Hellraiser'? Tenho medo quando o cinema americano quer (re)inventar algo.

No mais, um excelente texto, sem entregar nenhum spoiler. Perfeito.