quinta-feira, 30 de março de 2006

Casshern - Reencarnado do Inferno

Direção: Kazuaki Kiriya
Ano de lançamento (JAP): 2004
Duração: 141 min.



No final do século XXI, após 50 anos de uma desgastante guerra entre a Europa e a Federação do Leste, para decidir a hegemonia do continente agora chamado Eurásia. Porém essa guerra devasta o planeta inteiro, trazendo poluição e doenças devido às armas químicas e biológicas. Mas uma esperança surge com Dr. Azuma, um geneticista que precisa de patrocínio para pesquisar as "neo-células" (analogia as células tronco), que podem recuperar ou restituir órgãos sem riscos de rejeição, com o objetivo de curar sua esposa. Seu filho, Tetsuya, que está noivo de Luna, decide ir a guerra, entrando em conflito com seu pai, pois para Azuma ele deveria estar junto com sua mãe, cuidando-a. Cada um segue seu rumo e seus interesses e não se falam mais. A guerra acaba com a Federação do Leste vitoriosa, as pesquisas de Azuma não dão frutos e não há notícias de Tetsuya.


Algo misterioso acontece então, um relâmpago metalizado atinge as pesquisas do Dr. Azuma dando vida aos experimentos, nascendo assim os "neo-sapiens" que são logos assassinados por um pequeno exército. Apenas alguns escapam da dizimação e juram construir uma tropa e destruir toda a humanidade. Quem salvará o mundo do ataque? Esse alguém vive dentro de Tetsuya.

Antes de tudo, merece destaque a beleza visual, com uma fantástica fotografia. O filme é praticamente todo em "blue screen", produzido como "Capitão Sky e o Mundo de Amanhã", onde atores interagem com um cenário virtual. É o maior marco desse estilo de cinema. São cores que explodem na tela, parecem saídas de uma obra de arte. Interessante que cada local tem uma personalidade cromática, sendo o laranja predominante nos centros urbanos, cinza no Setor 7 e assim por diante.


Mas o que faz "Casshern" ser tão apaixonante é o fato de abranger temas como amizade, família, ética, filosofia, política, religião e ainda ser um filme de ação-ficção-científica. Uma família foi rompida pelo conflito de interesses entre pai e filho (pela morte e pela guerra), a busca desesperada de um marido pela cura da esposa, o extermínio de um grupo de pessoas, de uma raça por ser diferente das demais, a fé de que algo pode ser feito para mudar o futuro, além de ter uma mensagem antibélica muito forte, como se fosse um filme panfletário contra a guerra. Como se já não fosse o bastante, as seqüências de ação são espetaculares, onde a pancadaria come solta, mas isso está em segundo plano. Também é um filme que faz pensar, frustrando os telespectadores preguiçosos, que aceitam histórias prontas, negando as que necessitam de um pouco de compreensão. É o caso do estranho raio que traz vida aos "neo-sapiens", algo que lembra o monólito negro de "2001: Uma odisséia no espaço". Você pode formular sua teoria sobre o fato, dando liberdade às idéias de cada um.

"Casshern" é emocionante, sério, político. Confesso que não contive as lágrimas, fiquei paralisado até o final dos créditos. Passa uma mensagem belíssima, visualmente deslumbrante e ainda é um estrondoso entretenimento. Mais uma prova do crescimento do cinema oriental e das novas tecnologias cinematográficas. Ainda bem que existem filmes como esse.

terça-feira, 28 de março de 2006

Capote

Duração: 98 min.
Ano de Lançamento (EUA): 2005
Direção: Bennett Miller


Vencedor do Oscar de melhor ator para Philip Seymour Hoffman, Capote conta como foi feito o livro "A sangue frio", pelo então jornalista da revista "New Yorker" Truman Capote, sobre o assassinato de uma família inteira numa pequena cidade do interior. Porém, o foco principal do filme não é o assassinato e sim a relação do escritor com um dos homicídas.

Tudo começa em novembro de 1959, com Capote e sua amiga Harper Lee (Catherine Keener), escritora de O sol é para todos, indo para a cidade de Holcomb, no Kansas, para fazer a matéria sobre o brutal assassinato. Chegando lá eles ficam amigos do xerife Alvin Dewey (Chris Cooper), comandante da investigação. Após acharem os dois culpados, Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino) são condenados à forca, Capote começa a entrevistá-los e a engenhar seu famoso livro.

Truman Capote começa a ter uma identificação maior com Perry, sendo que ambos sofreram muito ao decorrer de suas vidas, criando uma amizade, mesmo tendo em vista que ele estava se aproveitando de ambos, esperando o dia da execução. Ele até mesmo os ajuda, contratando advogados para prorrogar a execução, com intuito de poder tirar informações para o livro. Mesmo com tudo isso, Capote acreditava que existia humanidade nos dois, mas sabia que eram dois assassinos. Um detalhe: depois de ter concluído "A sangue Frio", Capote jamais escreveu outro livro.

Destaque mesmo merece a atuação de Philip Seymour Hoffman, que a princípio é meio estranha, mas teria sido muito coerente com o Capote original. O ego do escritor também era conhecido, pois é dele a famosa frase "this is not writing is typewriting" (isso não é escrever, é datilografar) ao ler parte de On the Road, bíblia da geração beat escrita por Jack Kerouac. Era só o que faltava, o cara falar mal dos beats, mas enfim...

O filme foi bem dirigido por Bennett Miller, sendo o segundo de sua carreira. Uma fotografia discreta, com planos de filmagens muito parecidos. Tecnicamente não tem erros ou falhas grotescas. Seria melhor ler o livro antes de assistir o filme, pois lá estão os detalhes que dariam uma melhor compreensão ao fascínio de Capote por Perry e Dick. É uma bela obra, que faz jus a fama do livro, considerado um dos maiores expoentes da literatura americana.

sábado, 25 de março de 2006

Estréias para 2006

O código Da Vinci - A adaptação do best seller de Dan Brown, conta à história do simbologista Robert Langdon e da criptógrafa Sophie Neveu, envolvidos num assassinato que aconteceu no Museu do Louvre. O diretor responsável, Ron Howard, tem no elenco atores como Tom Hanks, Sophie Neveu, Jean Reno e Alfred Molina. Se o livro (cuja idéia principal é de que Jesus foi casado com Maria Madalena, deixando o legado da Igreja para ela, assim contradizendo tudo o que há na bíblia) já deu muita discussão, o filme vai causar mais alvoroço ainda. Mas tirando tudo isso, se o roteiro for bem adaptado, será um dos destaques desse ano.

The Fountain - Novo trabalho de Darren Aronofsky, ainda não foi muito esclarecido. O que se sabe é que trata de amor, morte, espiritualidade e a fragilidade da nossa existência nesse mundo. O elenco conta com Hugh Jackman e Rachel Weisz, além de velhos conhecidos do diretor como Sean Gullette e Ellen Burstyn. Pelo o que foi mostrado em Pi e Réquiem para um sonho, os fãs do diretor já estão roendo os dedos para assisti-lo.

quinta-feira, 23 de março de 2006

Melhores Filmes de 2005

A lista a seguir conta apenas filmes que entraram no circuito nacional em 2005, independente do ano de lançamento em seus países.


Menina de Ouro – Premiado como melhor filme no Oscar 2005, é um projeto que já nasceu clássico. Conta à história de Maggie, uma garota sofrida e pobre que tem como sonho consagrar-se campeã mundial de boxe. Ela convence Frankie Dunn, um treinador meio antiquado (leia-sê machista) e seu amigo e sócio Eddie, á treina-la. Magistral direção de Clint Eastwood, a cada ponta de esperança e felicidade que ele proporciona vem seguida de uma desgraça maior, seco como um soco no estômago. Hilary Swank numa atuação inspiradíssima, assim como Morgan Freeman.

Batman Begins – Estritamente baseado nos HQ do Homem-morcego, diferente dos outros filmes, Christopher Nolan pegou um personagem esquecido e lhe colocou nos holofotes de novo. A história de Bruce Wayne é contada desde sua infância, passando por seu maior medo e do assassinato de seus pais até o seu treinamento na Liga das Sombras. O clima da série melhorou, ficando até mais adulto e verossímil dentro do possível, afinal é a história de um super-herói. O elenco é monstruoso também, contando com nomes como Liam Nesson, Morgan Freeman, Gary Oldman e Michael Caine. Agora é esperar que a seqüência siga com o mesmo nível.

Old Boy – Oh Dae-su é seqüestrado numa noite chuvosa. Sem saber o motivo pelo qual foi raptado, ele assiste pela televisão de seu cativeiro a morte de sua mulher e o desaparecimento de sua filha. Após quinze anos de cárcere ele ganha a liberdade, porém é avisado que tem apenas cinco dias para descobrir os reais motivos da sua prisão, além de saber o que houve com sua família. O cinema asiático, no geral, é o que mais cresce e evolui, tanto tecnologicamente quanto artisticamente. Esse filme, cuja direção é de Park Chan-Wook, é apenas uma amostra desse processo, que mescla um roteiro surpreendente com ação e suspense. E o final então, de deixar qualquer um pelo menos um pouco pensativo.

No Direction Home - Bob Dylan – Documentário que conta à vida do músico, desde seus primeiros acordes no violão, passando por sua transição do folk para o rock, até sua consagração mundial. Dirigido por Martin Scorsese, é além de tudo uma viagem até a cena cultural de Nova York dos anos 60. Entre as entrevistas destaca-se a de Joan Baez, que foi companheira de Dylan na época, e de Allen Ginsberg, poeta beat. É basicamente o complemento visual do livro Crônicas Vol. 1. Essencial para os fãs do velhinho e interessantíssimo mesmo para quem não conhece ou não gosta dele, se isso for possível.

Edukators – Dois jovens amigos neo-revolucionários, Jan e Peter, fazem seus protestos de forma pacífica, que consistem em invadir casas de milionários e desarruma-las o máximo possível, mas sem roubar ou quebrar algo. Um dia Jule, que é namorada de Peter, descobre o que eles fazem e insiste em participar. Numa noite como outra qualquer eles invadem uma casa, mas durante o ato o morador volta, pegando-os no flagra. Para escapar da prisão eles resolvem seqüestrar o morador até decidirem o que fazer. Belíssimo filme que trata bastante de amizade e ideologias. O filme passa uma idéia bonita, possui discussões ideológicas contundentes. O desfecho é muito bom, com uma pequena surpresa no final dos créditos.

Sin City - A cidade do Pecado­ – Baseado na graphic novel de Frank Miller, o filme conseguiu transmitir o universo corrupto, sujo, monocromático e traiçoeiro de Sin City. Sua produção foi quase toda em computação gráfica, o que possibilitou um espantoso nível de fidelidade com o HQ, incluindo o sangue branco em certas cenas. São três histórias paralelas: do policial honesto que luta contra os mais poderosos para proteger uma menina; de um homem que busca vingança pela morte de seu amor e da guerra entre a polícia e as prostitutas assassinas de ‘Old Town’. Tem como ponto forte sua fotografia, inovadora. O elenco é muito bom contendo, entre outros, Bruce Willis e Mickey Rourke e Benicio Del Toro.

A Queda - As últimas horas de Hitler – Filme alemão que retrata o que teriam sido os últimos momentos do ditador antes de seu suicídio pela visão de sua secretária Traudl Junge. Interessante mostrar o final da segunda guerra pelo lado dos alemães. Outra coisa é que o filme mostra bem a fidelidade que o alto escalão tinha com o nazismo, como na cena onde a esposa de Goebbels matando os filhos. A atuação de Bruno Ganz como Hitler também merece destaque.

Sideways - Entre umas e outras – Miles (degustador profissional de vinhos) e Jack (ator) são grandes amigos, mas antes do casamento de Jack ambos resolvem viajar pelos Estados Unidos provando todos os tipos de vinhos e emoções, uma espécie diferente de uma despedida de solteiro. Primeiro é necessário ressaltar a aula de interpretação de Paul Giamatti, que já havia mostrado seu talento em O anti-herói americano e em outras obras, mas em Sideways ele foi o destaque. Ótimo roteiro, baseado na obra de Rex Pickett, a propósito levou o prêmio de roteiro adaptado no último Oscar.Vale a pena uma garrafa desse filme, ou melhor, uma caixa dele.

Closer - Perto demais – No filme de Mike Nichols amor é apenas uma palavra de quatro letras. É um quadrilátero amoroso entre os personagens de Jude Law, Natalie Portman, Julia Roberts e Clive Owen, onde todos os sentimentos são expostos sem papas na língua. Importante retratar que é um filme que só fala de sexo, quase em que todos os diálogos (um exemplo: a cena do sexo virtual), porém sem mostrar uma cena de nudez sequer. Pode parecer meio forçado as vezes, mas é a cruel realidade, sem nenhuma hipocrisia. A melancólica “The blower’s daughter”, de Damien Rice, fecha (e abre) o clima do filme.

Casshern - Reencarnado do Inferno – O melhor filme de 2005. Num futuro não tão distante, a Ásia entra em guerra contra a União Européia para decidir quem fica com o continente da Eurásia. Um cientista tenta achar a cura para sua esposa pesquisando as chamadas “neo-células” (analogia as células tronco). Enquanto isso seu filho escolhe partir para guerra, e acaba morrendo em combate. Porém acontece algo misterioso e milagroso ao mesmo tempo: um raio metálico (algo como o monólito em 2001) atinge o laboratório com as pesquisas das neo-células, dando vida aos experimentos. Ele então tenta trazer seu filho de volta a vida, mergulhando seu corpo no lugar atingido pelo raio. Em primeiro lugar, o filme é um deslumbre visual, cores belíssimas, fotografia fantástica, um fato notável do cinema digital. É um filme que fala sobre amizade, família, ética, além de possuir uma forte mensagem antibélica. Interessante que o telespectador fica livre para formular sua teoria sobre o raio, frustrando os mais passivos e preguiçosos. É baseado no anime japonês homônimo. Fantástico, emocionante, sensível, dinâmico. Graças a deus que ainda existem filmes como este.