quarta-feira, 22 de julho de 2009

The Science of Sleep

La Science des Rêves, Michel Gondry, 105 min., 2006




Mais uma vez certeiro. Mais uma vez Michel Gondry acerta a mão em “Sonhando Acordado” ao tratar novamente sobre o amor. Legítimo cinema de autor, aqui todas as suas características maluquices estão presentes. O resultado é uma obra de enorme sensibilidade, originalidade e criatividade.

Stephane é um cara que possui um certo problema: ele oscila entre a realidade e os sonhos. Literalmente sonha acordado. Em certos momentos ele não consegue mais diferenciar quando está acordado ou dormindo. Stephane é um artista, mas tem um trabalho que não gosta muito, pois a liberdade criativa nele é zero. E em seus sonhos povoa Stéphanie, sua meiga vizinha por quem ele começa cada vez mais nutrir um amor. Só que esse amor não é correspondido, uma tragédia clássica tema de infinitas obras em todos os campos artísticos.

Ok, não dá para negar que dá uma sensação de fossa parecida com “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”. Porém aqui o clima é muito mais lúdico, é tudo mais onírico. Cavalos saem voando, existem mares de papel celofane, céus de algodão, mãos ficam gigantes, pode-se sair nadando pelas cidades, o programa que ensina a ‘cozinhar’ os sonhos, tem até uma inusitada perseguição de carros de papelão. O mais interessante é que pouca computação gráfica é usada, a maioria dos efeitos especiais é feita em stop-motion, o que dá um visual diferenciado no filme, um ‘quê’ nostálgico, antigo, charmoso até. Já que se trata de um filme sobre sonhos a idéia é que se viva dentro de um, que passe a sensação de estar dentro de um, pelo menos deve ter sido essa a intenção do diretor e em várias vezes é cumprida com méritos.


Em determinada altura do filme tudo se mistura, sonhos e realidade, à medida que Stephane se apaixona cada vez mais. Talvez o espectador mais desatento careça um pouco de atenção para não se perder nessa mudança de narrativa. Aqui cabe um parênteses para a atuação de Gael García Bernal, excelente ator que toca o barco praticamente sozinho até o fim do filme. As demais atuações também estão muito boas, mas quem se sobressai é o ator mexicano.

É bem possível que a maior marca dos trabalhos do diretor Michel Gondry, ultrapassando até a singular estética visual de seus filmes, seja a sensibilidade. O interessante é que ele conseguiu fazer um filme parecido com “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” revisitando o tema proposto, mas ao mesmo tempo único, com suas nuances e singularidades. Um filme bonito, açucarado, que faz com quem assiste coloque um sorriso ou uma lágrima no rosto. Qual dos dois irá depender de como andam os sonhos...

*Postado originalmente no CINEFILIA

6 comentários:

Ronald Perrone disse...

Achei bem mais ou menos este aqui, mas pelo menos é melhor que o último filme dele, com o Jack Black, que eu esqueci o título

As partes de delírios, o visual, tudo é bem legal, mas como filme narrativo, eu achei meio fraco... hehe

Abraço!

Mandy disse...

Eu gostei muito do filme. Ele realmente dá aquela sensação de sonhos, onde tudo é meio estranho. Michel Gondry é muito conhecido por fazer essas coisas loucas! Ele é meio chegado com a Björk!

Agora queria saber sua opinião sobe coisas do filme, mas não sei se devo escrever aqui p/ não estragar o filme da galera, oq você sugere? Quero sbaer se eu entendi as coisas da mesma forma que você, pois tem hora que sonho e realidade ficam difíceis de serem separados.

Caio disse...

Bem, eu gostei do último do diretor. Motivo mais do que suficiente para eu me animar com seu novo filme.

Leandro Caraça disse...

O episódio do Gondry em "Tokyo!" é muito legal.

Pedro Henrique Gomes disse...

Parece ser um filme bonito, fiquei mais curioso.

Abs!!

Kamila disse...

O Michel Gondry é um diretor que ainda tem que me conquistar. Eu até que tenho curiosidade de assistir a este filme, porém tenho dificuldade em encontrá-lo.